O que lhe vem à cabeça quando você ouve a palavra ARTE? Uma mistura de
ideias, imagens, espaços, obras, lugares, dúvidas? Com certeza a arte passa por
todos estes pensamentos, mas é difícil defini-la em palavras. A primeira
resposta que as pessoas dão é: Arte é
sentimento. E o que seria sentimento ou qual seria o sentimento que a arte
provoca?
Sentimento também é uma palavra muito ampla, visto que há os bons e os
maus, e que são sempre opostos como, por exemplo, amor e ódio; tristeza e
alegria; medo e coragem; esperança e desespero. Assim como é difícil explicar
um sentimento e como sentimos esse sentimento, é difícil conceituar arte. São
muitas as tentativas, mas ainda não se chegou a um consenso.
Esta área do conhecimento é intuitiva, ampla e, me parece que para muitas
pessoas, temida, já que é permeada por mitos, tais como dom, inspiração,
talento e, inclusive, falta do que fazer. Para este último basta nos lembrarmos
da tão proclamada frase dita por pais, avós e, até mesmo, pasmem, professores!
“Onde
está o fulano. Está tão quieto... Deve estar fazendo ARTE!”
“Fulano,
para de fazer arte!”
E por aí vai. Eu diria: que bom!!! Pois se o fulaninho ou fulaninha está fazendo arte, é porque está
pensando, criando, inventando e experimentando para verificar se aquilo que
está produzindo dará certo ou não. Veja bem, quem pensa cria, pergunta, tenta
resolver problemas e construir coisas, experimenta e faz experiência, observa, reflete,
ou seja, desenvolve um pensamento criativo-intuitivo e científico, também. Mas
o fulaninho e a fulaninha não pode sequer se sujar, hoje... Justo no momento em que
vivemos com máquinas de lavar poderosas e sabões em pó, mágicos! O homem não
criou esses dois elementos à toa! Eles nos dão mais liberdade, ou deveriam dar.
Nem entrarei nos méritos da criação da máquina e do sabão...
Voltemos à arte e a tal da inspiração na arte. O ato de inspirar é
colocar para dentro uma boa quantidade de oxigênio, certo? É o oxigênio uma das
fontes que fornece energia para nossas células. Contudo você não pode segurá-lo,
pois energia retida é explosão na certa e você precisa colocá-la para fora para
renovar o ar no seu corpo. Então, entra oxigênio e sai gás carbônico. Plantas e
algas usam esse gás carbônico para fazer sua fotossíntese e nos devolver
oxigênio. O gás carbônico também conserva a temperatura do nosso planeta. Veja
que processo equilibrado!
Ora, então porque só inspirar, sendo que a troca é que mantém a vida? Como
já dizia Pablo Picasso (1881-1973): “A
inspiração existe, mas tem que te encontrar trabalhando”. E aí está o
segredo, arte é e dá TRA-BA-LHO!!! E trabalho árduo, pois usa do intelecto, do
conhecimento, da percepção de mundo, da intuição, da criatividade, da
imaginação, do corpo, de materiais e mídias diversos. A arte faz a fotossíntese
das nossas ideias criativas, críticas, sociais, ideológicas, filosóficas,
científicas, psicológicas. Então não é somente inspiração, mas expiração,
suspiro, espirro, por vezes asma, e outras, meditação. Pois para meditar e
procurar equilíbrio precisamos saber respirar.
Continuemos...
Talvez ainda não tenha surgido uma resposta ou um conceito ou uma
definição convincente porque, quem sabe, a arte seja filosófica e abstrata
demais, e/ou porque mexa profundamente conosco, com nossas sensações e
sentimentos mais profundos. Portanto é de caráter extremamente humano.
Foto: Miriam
da Rocha – arquivo pessoal – out/2019
Aranha e Martins (2009, p. 417) explicam
Assim como
o mito e a ciência são modos de organização da experiência humana – o primeiro
baseado predominantemente na emoção, o segundo, na razão –, também a arte vai
aparecer no mundo humano como forma de organização, como modo de transformar a
experiência vivida em objeto de conhecimento, dessa vez por meio do sentimento.
E esse conhecimento, esse sentimento geralmente são individuais e coletivos
ao mesmo tempo. O artista produz, o visitante sente. Cada um experimenta a sua
maneira, o artista ao produzir e o visitante ao fruir; mas ambos sentem e
compartilham esse sentimento seja ele bom ou ruim.
Cristina Costa (2004, p. 135) nos diz que “A arte proporciona a expressão
e sentidos compartilháveis, de um legado coletivo cheio de reminiscências,
sigilos e revelações.”
Sim, como mencionei acima, a arte é coletiva, se não o fosse não teria
sentido. Para que desenhar nas cavernas se a intenção maior não se constituísse
na caça? E conseguir trazer a caça para o grupo significava manter a vida
daquele clã. E os mais antigos habitantes da terra não tinham sequer noção do
que viria a ser arte, por isso se trata, também, de conhecimento intuitivo,
percepção de mundo e necessidade. Não fosse assim tanto a Arte Naïf quanto a
Arte Popular não teriam a menor importância, mas ambas têm um valor imenso para
a cultura! Fayga Ostrower tem uma frase interessante a respeito da arte. Para ela
a arte é a linguagem natural do ser
humano.
Para desmistificar um pouco mais da tão temida arte ou torná-la mais
temível... trago aqui uma explicação de Gombrich (2012, p. 65)
Não há o
que possamos realmente chamar de Arte. Existem somente artistas. Há algum
tempo, eram homens que, usando um pouco de terra colorida, esboçavam as formas
de um bisão nas paredes das cavernas. Hoje, os artistas compram suas tintas e
desenham cartazes para tapumes; eles fizeram, e ainda fazem, muitas outras
coisas. Não há nada de mal em chamar todas essas atividades de arte, desde que
tenhamos em mente que a palavra arte poderá ter muitos significados em
diferentes épocas e espaços, e saibamos que Arte com A maiúsculo não existe.
Arte com A maiúsculo passou a ser algo como um fetiche ou como uma espécie de
bicho-papão.
Enfim, a arte é uma manifestação humana e, como tal, está repleta de
significados, de simbologia, de enigmas, muitas vezes ainda não decifrados,
pois algumas civilizações produziram sua arte numa época distante e
desconhecida.
Para mim, é isso que a transforma num dos objetos de pesquisa mais
fascinantes: o conhecimento sobre a mente, a alma, o desenvolvimento humano e
as transformações que produziram em todos esses séculos de existência. A arte é
instável, assim como o ser humano o é.
Para finalizar, P. M. Bardi (1993, p. 7-8) disse que Nenhuma definição conseguiu jamais, e talvez jamais consiga, sintetizar
este complexo fenômeno espiritual e material ao mesmo tempo. E ele mesmo
tenta explicá-la propondo que
Arte é,
portanto, atividade humana que busca não somente o assim chamado belo, mas o
prazer estético, esse desejo humaníssimo de coisas e sensações que nos suscitam
assentimento, acordo com o nosso pensamento, grato momento de simpatia,
comoção, desejo de bem, vida feliz e racionalização de finalidades.
Então, eu diria que arte é algo para se descobrir, se desvelar diante dos
nossos olhos, nossas mentes, nossas sensações, para gerar algum tipo de
sentimento, de reflexão. Uma experiência ao mesmo tempo pessoal e dirigida. Dirigida porque é uma área que necessita de
estudos para quem quer se aprofundar e frui-la melhor, sem o estigma gostei/não
gostei, visto que ninguém gosta ou entende daquilo que desconhece. Pessoal por conta da experiência e
deleite de cada um diante de uma produção artística.
Sendo assim, concordo plenamente com a original resposta de Salvador Dalí
a respeito dessa questão:
Se eu soubesse (o que é arte) não o diria a ninguém!
Abaixo deixo algumas frases interessantes colhidas por Tarso Araújo
(2006), sobre o que é arte:
“Um objeto
ou experiência visual conscientemente criada através de uma expressão da
habilidade ou da imaginação” (Enciclopédia
Britannica, obra de referência mais popular do mundo.)
“Arte é o
desejo de um homem de se expressar, registrar as reações de sua personalidade
ao mundo em que ele vive.” (Amy Lowell –
1874-1925 – poeta americana)
“A arte é a
assinatura das civilizações.” (Beverly
Sills – 1929-2007 – Cantora lírica americana.)
“Arte não é
uma verdade. Arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade.” (Pablo Picasso – 1881-1973 – pintor
espanhol)
“Fazer
dinheiro é arte e trabalhar é arte e um bom negócio é a melhor forma de arte.” (Andy Warhol – 1928-1987 – artista
americano)
“A
verdadeira obra de arte não é nada senão uma sombra da perfeição divina.” (Michelangelo – 1475-1546 – Pintor italiano)
“A arte é
uma invenção da estética, que por sua vez é uma invenção dos filósofos... O que
chamamos de arte é um jogo.” (Octavio
Paz – 1914-1998 – escritor mexicano.)
E para você, neste momento, o que
é arte?
Referências:
BARDI, Pietro Maria. Pequena História da Arte. São Paulo: Melhoramentos, 1993
ARAÚJO, Tarso. Pergunta sem respostas: o que é arte?
Revista Superinteressante, Ed. 232. Editora Abril, Nov/2006
COSTA, Cristina. Questões de Arte. 2ªed. São Paulo:
Moderna, 2004
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e
MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à Filosofia. 4ª ed. rev. São Paulo: Moderna, 2009
GOMBRICH essencial: textos selecionados sobre arte e cultura.
Org. Richard Woodfield. Porto
Alegre: Bookman, 2012
Excelente definição!
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirPara mim, segue sendo uma questão sem uma definição apenas. Pode ser tudo o que já foi dito, definido, tanto quanto nada disso.
ResponderExcluirA questão, me parece às vezes, é a imensa necessidade humana de termos tudo definido, para então nos identificarmos, entendermos... uma caixinha para cada coisa... porém, para mim arte não cabe em uma caixinha, cabe em várias, em qualquer uma, sendo resultado de inúmeros fundamentos e vindo de pessoas tão diferentes, de tempos diferentes.
Assim, me tocaram mais as duas frases abaixo:
"A arte é a assinatura das civilizações.” (Beverly Sills – 1929-2007 – Cantora lírica americana.)
“Arte não é uma verdade. Arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade.” (Pablo Picasso – 1881-1973 – pintor espanhol)".
Obrigada, Miriam, por sempre colocar nosso cérebro e ser pra se renovar!!!
Outra lembrança me veio agora. Quando uma pessoa pergunta a outra: além de cantar ou além de pintar ou além de escrever, fotografar, atuar, seja o que for a arte desempenhada pelo artista, muitas vezes ouvi a pergunta "e com o que você trabalha?"
ResponderExcluirAinda hoje essa pergunta é recorrente. Há uma ruptura para muitos, parece.
Há dificuldade de entender a arte como um trabalho, como fonte de realização e de subsistência, de vida.
Desculpe os erros, mas às vezes o corretor entra em ação e não percebo :(
ExcluirConcordo e já ouvi a seguinte frase: "Além de 'dar aula' você trabalho?"
ResponderExcluirSendo assim creio que precisará haver uma grande mudança de atitude nas escolas, principalmente. O que era prioridade no século XIX não faz sentido hoje. E poucas escolas mudaram e pouco a escola mudou. Depois precisaríamos mudar alguns hábitos. Que lugares frenquentamos? Que programas assistimos?
Sem falar de elite, pois conheço muita gente de classes menos favorecida, porém que é muito mais esclarecida!
E assim vamos, plantando sementes sem saber que frutos e quando colheremos esses frutos. bjs
Texto sensacional Miriam! Parabéns!
ResponderExcluirAmando seus textos... Vejo você na sala, nos ensinando a sua arte!!!!! Saudade! Aproveitando, como você classifica a gastronomia? É arte?
ResponderExcluirQue maravilha de texto....um texto que questiona, que nos faz pensar fora da moldura...que nos alegra a alma! E por fim, como diria Ferreira Gullar, " A arte existe, porque só a vida não basta." Obrigada mais uma vez Miriam, por compartilhar sua sabedoria...e nela, nos encontramos no amor pela ARTE . Sucesso sempre...vida longa ao blog. Bejoka Adri
ResponderExcluirObrigada, Adriana! Ferreira Gullar foi feliz em muitas colocações e trabalhou basicamente com Arte. Talvez, entender um pouco sobre Arte, seja entender e melhor um pouco a vida... bjkas
ExcluirAdorei...
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirMagistral !
ResponderExcluirQue bom que gostou!!!!
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