domingo, 15 de março de 2020

Depois de alguns meses sem nada postar, justifico minha ausência pois estava envolvida com minha primeira exposição. Tarefa nada fácil para quem faz curadoria, leciona História da Arte e cuida da psique alheia através da Arteterapia.
Com um incentivo muito particular de um ex-aluno e grande amigo, Luciano Itaqui, tomei coragem para mostrar meu próprio trabalho que envolve colagem e poesia.
Espero que apreciem e me perdoem pela ausência.
Em breve voltarei com novos textos!

Abraços

ARBOREM HOMINUM

A árvore está em mim tanto quanto eu nela, mas sou eu quem mais precisa dela!
Miriam da Rocha

Esse projeto surgiu em 2015 mais precisamente. Sou amante das árvores por tudo o que elas nos trazem de bom durante toda a sua existência. Gosto de desenhá-las do meu jeito e de criá-las e pensá-las e observá-las e amá-las!
Em 2015 estava me recuperando de uma cirurgia quando começaram a vir revistas para minha casa. Inicialmente através de uma assinatura que cancelei, porém outra editora começou a enviar outras para mim até o final de 2018.
Além disso, sempre ganhei muitas revistas e encartes, pois meus amigos sabem do meu prazer em trabalhar com papel, além de promover atividades com meus alunos de todas as idades e de utilizar nas sessões de arteterapia, profissão que também exerço.
O volume de revistas tornou-se grande, então comecei a pensar nas imagens prontas que elas trazem, porém ressignificadas. Uni meu amor pelas árvores e minha reflexão sobre o que a humanidade está fazendo com o planeta para transformar em algo artístico e significativo. Busquei Frans Krajberg como referência, visto que este artista, falecido em 2017, buscava associar sua arte à defesa do meio ambiente; Henri Matisse, com suas colagens na fase final de sua carreira; além do colega e artista joinvilense Luciano da Costa Pereira, que trabalha imagens recortadas com maestria.
Procurei saber a respeito de como o papel é fabricado no Brasil e no mundo. Minha surpresa foi positiva, já que os papéis que utilizo são oriundos de plantio próprio para esse fim. As árvores utilizadas para a fabricação do papel são basicamente o Eucalipto e o Pinus. Tais árvores são cortadas conforme a idade, pois o reflorestamento é contínuo e as áreas são legalizadas para esse tipo de atividade. Sites como o da Embrapa (https://www.embrapa.br/), Chamex (https://chamex.com.br/) e Canson (http://pt.canson.com/) esclarecem bem o processo e o cuidado com o meio ambiente.
Pois bem, meu assunto com o papel novo estava esclarecido, porém veio a dúvida sobre o papel reciclado. Parti do senso comum que a reciclagem seria o melhor caminho, contudo pesquisei sobre o tema e constatei que o gasto de energia com papel reciclado é muito maior, assim como é preciso utilizar papel celulose virgem na sua composição. Coloco aqui apenas uma das referências que li a respeito de uma pesquisa na área feita por alguns estudantes da Unicamp que dispõe dados sobre os gastos com a reciclagem (http://www.ib.unicamp.br/dep_biologia_animal/sites/www.ib.unicamp.br.site.dep_biologia_animal/files/9.%20A%20ECOEFICI%C3%8ANCIA%20DO%20PAPEL.pdf).
Pesquisas feitas, dúvidas tiradas, parti para a reflexão do que eu faria com as revistas que tinha (e tenho) disponíveis. Resolvi fazer composições com árvores. Contudo não queria partir de uma montagem simplesmente, queria algo mais. E me pus a pensar na relação da árvore com a vida do planeta. Como seria sem ela? Não seria!
ÁRVORE DA SABEDORIA, 2019

O calor já teria nos matado, assim como a fome e a falta de ar.
Árvore é abrigo, é alimento, é sombra, é cura, é frescor, é proteção, é livro, é caderno, é brinquedo, é arte...
Árvores são famílias de diferentes etnias. Não há discriminação entre elas. Quando importadas se dão bem com as nativas. As maiores protegem as menores. As menores ajudam a alimentar as maiores. Suas conexões auxiliam no equilíbrio do planeta. Assim deveria ser com os seres humanos.
Então resolvi fazer o tronco das árvores com partes do corpo humano e das copas criações com o que me aparecia. Procurei utilizar cada pedacinho recortado de papel para não desperdiçar. Pois, como o reciclar é caro, reaproveitar tornou-se meu lema.
Poucos materiais são necessários para que eu desenvolva meu trabalho: papel Canson ou cartolina para base, tesoura, cola, revistas e encartes, além de um olhar cuidadoso para encontrar o “tronco” certo, construir a copa de acordo e fazer uma base condizente. Talvez alguns perguntem: e quanto às raízes? As raízes, só as verdadeiras árvores possuem!

InsPIRAR + ExpirAR = RespirAÇÃO, 2019



Abaixo, as poesias



SÉRIE BONSAI I


Bonsai Coração 1
Tamanho reduzido
Amor multiplicado
Não dividido


Bonsai Coração 2
Por mim palpita
Pela minha arte
Pela minha vida


Bonsai Coqueiros 1
A noite pede sono profundo
A sombra, reflexão
Ambos tem o oculto do mundo


Bonsai Coqueiros 2
Da onde vem a imaginação
Senão das sombras
Que emitem sua vibração


Bonsai Palavras no coração
A vibração acontece
Palavras, sons, imagens, movimento
O artista nasce


Bonsai Estrela
Fixa, cadente ou guia
Cada estrela
Contém uma magia


Bonsai Flor
Perfume, cor, gestação
Eterna primavera
Em cada broto uma emoção


Bonsai Celeste
Azul céu, azul mar, azul alma
Azul, meu azul
Cor que acalma


Bonsai Pedaços
Como quebra-cabeça
Sou feita de pedaços
Adeus!... Quando se encaixar a última peça.


Quarteto Bonsai
Forma, cor, movimento
Diferentes tempos
Um único pensamento


ÁRVORES

(Des) Crença, 2019


(Des) Crença
Em que acredito?
Só eu sei, só eu sinto.
No que você crê?
Não sei...
Respeito!

FOSCAS JANELAS
Entre ver e observar
Há uma distância
Vejo tudo
Observo o que me apraz

FOSCAS JANELAS
Olhos, janelas da alma...
Foscas janelas
A impedem de ser vista...

ECO
Se fala, simples eco
Se cala, sem opinião
Quando colorida, sedutora
Dentes a mostra, leviana
Melhor mantê-la fechada
Não entra mosca nem sai zangão

FAST FOOD FAST LIFE
A comida está fast...
Food sem sabor...
Como vai a life?
Tão gordurosa quanto a food

FAST FOOD FAST LIFE, 2019



ÁRVORE DA SABEDORIA
Porque não somos eternos
Como as árvores
Fazemos livros...
Do seu tronco

ÁRVORE DA SABEDORIA
Árvore
Sábio ser
Nutre, aconchega, protege, refresca
Doa a vida para alimentar nosso saber

InspirAR + ExpirAR
=
RespirAÇÃO

InsPIRAR, poluído
ExPIRAR sofrido
InspirAR, puro
ExpirAR sufoco diluído


InspirAR + ExpirAR
=
RespirAÇÃO

Respiro, logo vivo
Entre meu primeiro choro
E meu silêncio permanente
Existe vida para ser vivida


CHRONOS
Por um momento
Pensamos dominá-lo
Mas só Chronos
É o senhor do tempo

CHRONOS
Tal qual um furacão
É o tempo
Somos impotentes
Diante de ambos


Para que tantos relógios
Se existem os pássaros?


O conhecimento cabe
Na palma da mão
A sabedoria
Não se mede


O pensamento é livre
Tal qual a folha de uma árvore
O primeiro alimenta a alma
A segunda, a terra


Em cada
Incêndio florestal
Se queima
A sabedoria ancestral

quarta-feira, 30 de outubro de 2019


ARTE CONTEMPORÂNEA...

O que é afinal, Arte Contemporânea? Para mim, um conceito a se pensar já que a palavra “contemporânea” pode se referir ao que é ou foi do mesmo tempo, da mesma época e pode, portanto estar distante de nós, como Leonardo da Vinci e Michelangelo ou Aleijadinho e Mestre Athaide. Mas “contemporâneo” também se refere ao nosso tempo, ao que estamos vivendo, vendo e convivendo aqui e agora!
Fig. 1: A Escola de Atenas, 1509 a 1511 – afresco – 5m x 7,7m – Vaticano – Roma – Rafael de Sanzio

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Atenas#/media/Ficheiro:Escola_de_Atenas_-_Vaticano_2.jpg

Ou seja, a Arte Contemporânea contempla tudo o que se está produzindo nesta época, neste momento histórico, desde desenhos clássicos até o estudo de linhas coloridas ou não, finas ou grossas e em diferentes posições num suporte que não necessariamente precisa ser o papel, por exemplo. Contudo essa nova maneira de produzir arte precisa de um novo olhar para apreciá-la.
Como explica Couquelin, a arte agora é um sistema, um ‘Estado Contemporâneo’, ou seja,

significa que esse sistema não é mais o sistema que prevaleceu até recentemente; ele é o produto de uma alteração de estruturas de tal ordem que não se podem mais julgar nem as obras nem a produção delas de acordo com o antigo sistema. (2005, p. 15)

Não compete a mim saber qual nome se dará daqui a algum tempo, uns 50 anos ou menos, para tudo o que está sendo produzido, dentro deste momento contemporâneo. Até porque já não mais estarei por aqui. Mas creio que posso contribuir para amenizar a antipatia que causa em muitos quando se fala da Arte Contemporânea.

A Arte Contemporânea ficou e continua sendo estigmatizada como algo estranho, de difícil compreensão e, talvez, individualista, para muitos. Como em todos os períodos históricos há uma produção de alta qualidade e outra, nem tanto, na visão atual. Porém essa arte não tão aclamada agora daqui a alguns anos poderá requerer sua qualidade, seu feito histórico.
Voltemos no tempo e pensemos no Barroco do séc. XVII na Europa. Este estilo foi recebido como algo exagerado, disforme, dramático ao extremo e seu pomposo nome de hoje surgiu, segundo alguns estudiosos, justamente por se tratar de algo rude em comparação ao Renascimento, que era clássico, equilibrado, científico, feito com cores suaves e dentro de proporções corretas desenvolvidas com muito estudo (fig. 1).

Para começar, a origem da palavra Barroco, segundo o dicionário etimológico online, vem

Do francês boroque, que significa “irregular”.
Existem diversas hipóteses sobre a real origem do termo “barroco”.
Alguns etimologistas acreditam que a palavra tenha se originado a partir do grego baros, que significa “pesado”, enquanto outros defendem a ideia do surgimento a partir do italiano barocchio, que quer dizer “engano” ou “fraude”.
No entanto, a versão mais aceita sugere que tenha aparecido na língua portuguesa a partir da versão em espanhol berrueca ou do francês baroque, que teriam sido evoluções do latim verruca, que significa “verruga” ou “irregular”.
Na língua portuguesa, barroco é uma pedra irregular granítica ou uma pérola de forma irregular. Esta palavra aparece com esta definição no dicionário da língua portuguesa desde o século XVII.
No século XVIII, a palavra barroco começou a ser associada a tudo o que era irregular, extravagante ou desigual, principalmente em referência às obras artísticas que surgiram após o período do Renascimento.

Pois é, o Barroco também não era nada gracioso para aqueles que foram seus contemporâneos. Mas deu um pouco (eu disse um pouco) mais de liberdade para trabalhar a cor, experimentar o que havia de novo, distorcer a perspectiva central e científica, desequilibrar a imagem, visto que a vida estava incerta, na época, com a Contrarreforma.

Caravaggio (fig. 2), por exemplo, foi um gênio na criação de cenários para pintar o mais realisticamente possível as imagens encomendadas pela Igreja Católica e pelos colecionadores da época. Trabalhava com modelos vivos num grande palco que montou num dos seus ateliers, criando até mesmo maneiras de utilizar a luz para dar dramaticidade as cenas que compunha. Deu sua contribuição inclusive para o teatro, o cinema e a TV.

Foi totalmente oposto ao equilíbrio dado às obras pelos renascentistas, o que faz sentido, visto que o artista de qualquer momento histórico está antenado com sua época e pensa além dela.

Fig. 2: Vocação de São Mateus, 1599 ou 1600 – óleo sobre tela – 3,22 x 3,40m – San Luigi dei Francesi – Roma – Michelangelo Caravaggio

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Calling_of_Saint_Matthew_by_Carvaggio.jpg



Caravaggio mostrou um mundo em movimento, em mudança. Bem oposto ao classicismo trazido pela linearidade do Renascimento. E houve uma época em que a produção Renascentista e Barroca foram contemporâneas, até a segunda sobrepujar a primeira. Inclusive entre ambas houve o Maneirismo que ajudou nesse período de transição. Uau! Quanta contemporaneidade!!!

Contudo uma nova arte exigiu um novo olhar. Sabemos que qualquer tipo de mudança gera um período de estresse, de negação, até de um certo horror, pois o mundo equilibrado que se pensa viver vira de cabeça para baixo.

Qualquer semelhança não é mera coincidência. A História nos mostra isso. E nunca podemos isolar o artista do tempo em que está inserido, podemos isolá-lo de nomes dados a estilos e movimentos. Aliás, hoje não temos mais esta divisão entre estilos ou movimentos, pois os artistas trabalham suas ideias individualmente dentro de técnicas semelhantes, como no caso do Grafite.

É preciso lembrar que a contemporaneidade traz materiais diferentes, tecnologias a serem exploradas, suportes diversos, junto com todos os materiais já desenvolvidos e existentes até então. Tinta a óleo, carvão, lápis grafite, aquarela, guache, gravura, mármore, bronze, madeira, ganharam novas aplicações e se uniram aos jovens como tinta acrílica, silicone, peças de carro, isopor, EVA, vídeos, plástico, recicláveis em geral, objetos e imagens prontas e até esterco de elefante!

O artista tem liberdade para criar com o que tem em mãos. É um trabalho árduo, de pesquisa, experiência, introspecção. Este PROFISSIONAL pode questionar a forma, a cor, ambos, a sociedade, a si mesmo, a religião, a política. Pode desafiar a física, o tempo, a tecnologia. E tudo isso nos afeta diretamente, pois se antes havia o certo e o errado, hoje não mais existe.

Coloquei a palavra profissional em caixa alta porque ainda se pensa que o artista ou é meio lunático ou que recebe alguma entidade. Trago isso em respeito aos artistas e a todas as religiões que acreditam ou não nas entidades. Tivemos artistas como a sueca Hilma af Klint que produzia segundo ordens ocultas. Mas isso será, quem sabe, assunto para outra publicação. O que é importante frisar aqui é que artista é um profissional como qualquer outro. O que já expliquei no texto anterior.
Voltemos ao tema.

Pense comigo, se eu me sinto afetado por algo é porque não o entendo. E para entendê-lo eu preciso mais do que um manual, preciso abrir minha mente. Nenhum radicalismo é inteligente e minha opinião não é a única nem a totalmente correta, se é que está correta ou o foi em algum momento.

Talvez o mais importante da Arte Contemporânea não seja discutir seu valor monetário. Por que, por exemplo, o “Tubarão”, de Damien Hirst conservado em formol, foi vendido por 6,5 milhões de libras (hoje, cerca de 8,32 milhões de dólares)? Sendo que ele foi substituído por outro, já que o original entrou em decomposição? Talvez melhor seria perguntar O QUE esse tubarão conservado em formol pode nos dizer a respeito de como tratamos tais animais, o oceano e até mesmo a vida marinha em geral entre outros questionamentos que nos façam ver além de um tubarão morto dentro de uma caixa transparente.

Tubarão, Damien Hirst ( - Coleção Particular
Título original: The Physical Impossibility Of Death In the Mind Of Someone Living
(Impossibilidade física da morte na mente de alguém vivo)
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/transfigurar/2012/04/hirst-o-tubarao-e-a-arte-segundo-arthur-c-danto.html - acesso em 30 out 19

Pintar um tubarão seria mais fácil do que conservá-lo com aparência de vivo por muitos anos. Porém, agora vale mais a ideia do que o material e nem sempre o artista faz a obra, mas a projeta. Exatamente como no Renascimento. Ou você pensa que Rafael pintou todos aqueles murais sozinho! Quanto aos tubarões, eles ainda morrem sem suas barbatanas pelos oceanos afora em prol da vaidade humana e sustentando famílias

Usando e abusando do Renascimento como exemplo, doce ilusão quem pensa que todos tinham acesso às obras mitológicas da época. Elas eram feitas para uma elite que sabia ler e tinha acesso à mitologia e isso os tornava diferentes das outras classes. Hoje babamos por elas. São realmente belíssimas e cheias de simbologia, assim como as obras feitas neste nosso momento. Assim como o Tubarão de Hirst. Mesmo as obras mitológicas do renascimento requerem estudo, pois não sabemos que deuses e deusas são e muito menos o que queriam dizer para a época.

Sempre falei e falo para meus alunos que toda obra é fofoqueira. Basta você conversar com ela que ela te responderá alguma coisa ou te fará perguntas. É como uma paquera. Mesmo um “Quadrado negro sobre fundo branco”, de Malévich tem muito, mas muito a nos contar sobre suas ideias, sobre o cheio e o vazio, sobre o cosmos.

Quadrado negro sobre fundo branco1918 – óleo sobre tela – State Russian Museum – Kasimir Malevich

Picasso teve medo de expor sua “Senhoritas de Avignon” de 1907, pois sabia que os olhares não estavam prontos para ela. Vendeu-a para um alfaiate porque sua mulher, na época, não queria ver aquela “aberração”. Hoje é venerada no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Ela é muito mais que cinco prostitutas, do que mulheres mascaradas! Ela nasceu de um estudo de aproximadamente 750 desenhos!

Les Demoseiles de Avignon, 1907 – Museu de Arte Moderna de Nova Iorque – Pablo Picasso
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Les_demoiselles_d%27Avignon – acesso 30 out 19


Procurei trazer exemplos de obras e artistas que inovaram e inicialmente os olhares se voltaram contra eles. Poderia ainda citar os impressionistas, os surrealistas, os dadaístas e muitos outros. Todos nos ensinaram e ensinam a ter um olhar diferente sobre as obras, a sociedade, a técnica e sobre o próprio artista e sua visão de mundo.

Eu pergunto, então, como olhar uma obra hoje se a contemporaneidade nos trouxe uma pressa nunca vista antes? Pense, se não temos “tempo” de conversar com um amigo, imagina com uma obra de arte! Porém, vale lembrar que o que nos torna diferentes dos outros seres é justamente este diálogo com nossos amigos e com as artes, sejam elas as visuais, a música, a literatura, o teatro, a dança, o cinema...

Para finalizar, gostaria de frisar que uma nova arte necessita de um novo olhar despido de conceitos e preconceitos, de dogmas, de radicalismo, de antipatia. Não precisamos gostar, contudo precisamos compreender para respeitar. Também se faz necessário entender que uns nasceram para criar arte outros para apreciá-la, mas todos nascemos para pensar o mundo e tentar fazê-lo melhor!


Referências

BARROCO. Disponível em https://www.dicionarioetimologico.com.br/barroco/ - acesso 24 out 19
CARAVAGGIO, Michelangelo. A Vocação de São Mateus. Disponível em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Calling_of_Saint_Matthew_by_Carvaggio.jpg – acesso 24 out 19
COUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea: uma introdução. Trad. Rejane Janowitzer. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
HIRST, Tubarão. Disponível em http://lounge.obviousmag.org/transfigurar/2012/04/hirst-o-tubarao-e-a-arte-segundo-arthur-c-danto.html  - acesso 30 out 2019
MALEVICH, Kasimir. Quadrado negro sobre fundo branco. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Suprematismo#/media/Ficheiro:Malevich.black-square.jpg – acesso 30 out 19
PICASSO, Pablo. Les Demoseiles de Avignon. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Les_demoiselles_d%27Avignon – acesso 30 out 19
SANZIO, Rafael. A Escola de Atenas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Atenas#/media/Ficheiro:Escola_de_Atenas_-_Vaticano_2.jpg – acesso 24 out 19

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O QUE É ARTE, AFINAL?


O que lhe vem à cabeça quando você ouve a palavra ARTE? Uma mistura de ideias, imagens, espaços, obras, lugares, dúvidas? Com certeza a arte passa por todos estes pensamentos, mas é difícil defini-la em palavras. A primeira resposta que as pessoas dão é: Arte é sentimento. E o que seria sentimento ou qual seria o sentimento que a arte provoca?
Sentimento também é uma palavra muito ampla, visto que há os bons e os maus, e que são sempre opostos como, por exemplo, amor e ódio; tristeza e alegria; medo e coragem; esperança e desespero. Assim como é difícil explicar um sentimento e como sentimos esse sentimento, é difícil conceituar arte. São muitas as tentativas, mas ainda não se chegou a um consenso.
Esta área do conhecimento é intuitiva, ampla e, me parece que para muitas pessoas, temida, já que é permeada por mitos, tais como dom, inspiração, talento e, inclusive, falta do que fazer. Para este último basta nos lembrarmos da tão proclamada frase dita por pais, avós e, até mesmo, pasmem, professores!

“Onde está o fulano. Está tão quieto... Deve estar fazendo ARTE!”
“Fulano, para de fazer arte!”
E por aí vai. Eu diria: que bom!!! Pois se o fulaninho ou fulaninha está fazendo arte, é porque está pensando, criando, inventando e experimentando para verificar se aquilo que está produzindo dará certo ou não. Veja bem, quem pensa cria, pergunta, tenta resolver problemas e construir coisas, experimenta e faz experiência, observa, reflete, ou seja, desenvolve um pensamento criativo-intuitivo e científico, também. Mas o fulaninho e a fulaninha não pode sequer se sujar, hoje... Justo no momento em que vivemos com máquinas de lavar poderosas e sabões em pó, mágicos! O homem não criou esses dois elementos à toa! Eles nos dão mais liberdade, ou deveriam dar. Nem entrarei nos méritos da criação da máquina e do sabão...
Voltemos à arte e a tal da inspiração na arte. O ato de inspirar é colocar para dentro uma boa quantidade de oxigênio, certo? É o oxigênio uma das fontes que fornece energia para nossas células. Contudo você não pode segurá-lo, pois energia retida é explosão na certa e você precisa colocá-la para fora para renovar o ar no seu corpo. Então, entra oxigênio e sai gás carbônico. Plantas e algas usam esse gás carbônico para fazer sua fotossíntese e nos devolver oxigênio. O gás carbônico também conserva a temperatura do nosso planeta. Veja que processo equilibrado!
Ora, então porque só inspirar, sendo que a troca é que mantém a vida? Como já dizia Pablo Picasso (1881-1973): “A inspiração existe, mas tem que te encontrar trabalhando”. E aí está o segredo, arte é e dá TRA-BA-LHO!!! E trabalho árduo, pois usa do intelecto, do conhecimento, da percepção de mundo, da intuição, da criatividade, da imaginação, do corpo, de materiais e mídias diversos. A arte faz a fotossíntese das nossas ideias criativas, críticas, sociais, ideológicas, filosóficas, científicas, psicológicas. Então não é somente inspiração, mas expiração, suspiro, espirro, por vezes asma, e outras, meditação. Pois para meditar e procurar equilíbrio precisamos saber respirar.
Continuemos...
Talvez ainda não tenha surgido uma resposta ou um conceito ou uma definição convincente porque, quem sabe, a arte seja filosófica e abstrata demais, e/ou porque mexa profundamente conosco, com nossas sensações e sentimentos mais profundos. Portanto é de caráter extremamente humano.
Foto: Miriam da Rocha – arquivo pessoal – out/2019
Aranha e Martins (2009, p. 417) explicam
Assim como o mito e a ciência são modos de organização da experiência humana – o primeiro baseado predominantemente na emoção, o segundo, na razão –, também a arte vai aparecer no mundo humano como forma de organização, como modo de transformar a experiência vivida em objeto de conhecimento, dessa vez por meio do sentimento.
E esse conhecimento, esse sentimento geralmente são individuais e coletivos ao mesmo tempo. O artista produz, o visitante sente. Cada um experimenta a sua maneira, o artista ao produzir e o visitante ao fruir; mas ambos sentem e compartilham esse sentimento seja ele bom ou ruim.
Cristina Costa (2004, p. 135) nos diz que “A arte proporciona a expressão e sentidos compartilháveis, de um legado coletivo cheio de reminiscências, sigilos e revelações.”
Sim, como mencionei acima, a arte é coletiva, se não o fosse não teria sentido. Para que desenhar nas cavernas se a intenção maior não se constituísse na caça? E conseguir trazer a caça para o grupo significava manter a vida daquele clã. E os mais antigos habitantes da terra não tinham sequer noção do que viria a ser arte, por isso se trata, também, de conhecimento intuitivo, percepção de mundo e necessidade. Não fosse assim tanto a Arte Naïf quanto a Arte Popular não teriam a menor importância, mas ambas têm um valor imenso para a cultura! Fayga Ostrower tem uma frase interessante a respeito da arte. Para ela a arte é a linguagem natural do ser humano.
Para desmistificar um pouco mais da tão temida arte ou torná-la mais temível... trago aqui uma explicação de Gombrich (2012, p. 65)
Não há o que possamos realmente chamar de Arte. Existem somente artistas. Há algum tempo, eram homens que, usando um pouco de terra colorida, esboçavam as formas de um bisão nas paredes das cavernas. Hoje, os artistas compram suas tintas e desenham cartazes para tapumes; eles fizeram, e ainda fazem, muitas outras coisas. Não há nada de mal em chamar todas essas atividades de arte, desde que tenhamos em mente que a palavra arte poderá ter muitos significados em diferentes épocas e espaços, e saibamos que Arte com A maiúsculo não existe. Arte com A maiúsculo passou a ser algo como um fetiche ou como uma espécie de bicho-papão.
Enfim, a arte é uma manifestação humana e, como tal, está repleta de significados, de simbologia, de enigmas, muitas vezes ainda não decifrados, pois algumas civilizações produziram sua arte numa época distante e desconhecida.
Para mim, é isso que a transforma num dos objetos de pesquisa mais fascinantes: o conhecimento sobre a mente, a alma, o desenvolvimento humano e as transformações que produziram em todos esses séculos de existência. A arte é instável, assim como o ser humano o é.
Para finalizar, P. M. Bardi (1993, p. 7-8) disse que Nenhuma definição conseguiu jamais, e talvez jamais consiga, sintetizar este complexo fenômeno espiritual e material ao mesmo tempo. E ele mesmo tenta explicá-la propondo que
Arte é, portanto, atividade humana que busca não somente o assim chamado belo, mas o prazer estético, esse desejo humaníssimo de coisas e sensações que nos suscitam assentimento, acordo com o nosso pensamento, grato momento de simpatia, comoção, desejo de bem, vida feliz e racionalização de finalidades.
Então, eu diria que arte é algo para se descobrir, se desvelar diante dos nossos olhos, nossas mentes, nossas sensações, para gerar algum tipo de sentimento, de reflexão. Uma experiência ao mesmo tempo pessoal e dirigida. Dirigida porque é uma área que necessita de estudos para quem quer se aprofundar e frui-la melhor, sem o estigma gostei/não gostei, visto que ninguém gosta ou entende daquilo que desconhece. Pessoal por conta da experiência e deleite de cada um diante de uma produção artística.
Sendo assim, concordo plenamente com a original resposta de Salvador Dalí a respeito dessa questão:
Se eu soubesse (o que é arte) não o diria a ninguém!

Abaixo deixo algumas frases interessantes colhidas por Tarso Araújo (2006), sobre o que é arte:
“Um objeto ou experiência visual conscientemente criada através de uma expressão da habilidade ou da imaginação” (Enciclopédia Britannica, obra de referência mais popular do mundo.)
“Arte é o desejo de um homem de se expressar, registrar as reações de sua personalidade ao mundo em que ele vive.” (Amy Lowell – 1874-1925 – poeta americana)
“A arte é a assinatura das civilizações.” (Beverly Sills – 1929-2007 – Cantora lírica americana.)
“Arte não é uma verdade. Arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade.” (Pablo Picasso – 1881-1973 – pintor espanhol)
“Fazer dinheiro é arte e trabalhar é arte e um bom negócio é a melhor forma de arte.” (Andy Warhol – 1928-1987 – artista americano)
“A verdadeira obra de arte não é nada senão uma sombra da perfeição divina.” (Michelangelo – 1475-1546 – Pintor italiano)
“A arte é uma invenção da estética, que por sua vez é uma invenção dos filósofos... O que chamamos de arte é um jogo.” (Octavio Paz – 1914-1998 – escritor mexicano.)

E para você, neste momento, o que é arte?

Referências:

BARDI, Pietro Maria. Pequena História da Arte. São Paulo: Melhoramentos, 1993
ARAÚJO, Tarso. Pergunta sem respostas: o que é arte? Revista Superinteressante, Ed. 232. Editora Abril, Nov/2006
COSTA, Cristina. Questões de Arte. 2ªed. São Paulo: Moderna, 2004
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. 4ª ed. rev. São Paulo: Moderna, 2009
GOMBRICH essencial: textos selecionados sobre arte e cultura. Org. Richard Woodfield. Porto Alegre: Bookman, 2012

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

LER ou VER, SER TURISTA ou VIAJANTE


Uma imagem vale mais que mil palavras.
(Confúcio)

Faz algum tempo, dei uma palestra no Museu Casa Fritz Alt sobre “ler ou ver” uma imagem, “ser turista ou viajante”, cujo título era: “Ler ou ver, eia a questão!”. Parece algo óbvio, simples, mas que requer um pouco de atenção para que se perceba uma tênue mudança de atitude dependendo do verbo escolhido, da intenção, da atitude.

O provérbio de Confúcio, exposto acima, nos coloca uma pulguinha a frente do nariz. E por que não atrás da orelha? Simplesmente pelo fato de não podermos vê-la neste local. Mas quando ela fica exposta, há uma série de questões a respeito da pulga que surgem. De onde ela veio? Por que está ali? Vai me picar? Vai pular para longe ou em mim? Por que é tão pequena? O que ela faz aqui e não está no seu lugar, no pelo de algum cachorro, por exemplo? Por que é marrom e não de outra cor? Por que não tem asas? É pré-histórica?... Enfim, um inseto tão pequeno suscitou algumas reflexões, não é mesmo? Trata-se de um pequeno ponto marrom imaginado na frente do meu nariz que me levou a pensar em tantas coisas, lugares, possibilidades. Levou-me da curiosidade a raiva, pois ali, na minha concepção, não seria o lugar dela. E por que deveria estar num cachorro? Por que ele é seu hospedeiro, além do gato e outros mamíferos e aves; e ela, sua parasita. Sem entrar nos méritos de remédios para parasitas, defesa animal, enfim, vamos nos ater ao exemplo em si e as questões, visto que se eu tivesse um cãozinho iria detestar mais ainda a dita pulga.

Ora, escrevi um parágrafo imenso sobre uma pulga, ou melhor, sobre a imagem que criei de uma pulga e que já está povoando a sua cabeça. Ela apenas me serviu de exemplo para sugerir qual postura deveríamos ter diante de uma obra de arte, trabalho artístico, objeto de arte, vídeo arte, livros sem texto, gravuras, desenhos, cerâmica, enfim sobre a Arte. Ou seja, a postura de uma criança ou de um cientista, isto é, a postura de um ser curioso diante do desconhecido.

Vamos enveredar por outro caminho. Você já pensou se tem um olhar de turista ou de um viajante?
Pois bem, o turista geralmente tem pressa porque vai com tempo contado, muitas vezes em excursões onde cada um tem seu interesse próprio. Turista gosta de tirar selfies para dizer que esteve naquele local. Contudo não interage com o local. Olha tudo, mas não observa nada. Quer fazer as mesmas coisas que faz na própria cidade: ir a algum shopping, comer o de sempre e fazer compras. Fica ausente da história do lugar. Não experimenta a dor de barriga de uma boa feijoada local.
Selfie

O viajante, por sua vez, leva pouca bagagem, costuma fotografar o que vê, tira uma ou outra selfie, quando lembra. Ele interage, questiona, conversa, é curioso a respeito da história do local que está visitando. Não tem pressa, pois poderá voltar outras vezes para conhecer melhor o lugar. O viajante é investigativo. Ele viaja para querer saber, para agregar conhecimentos, para desbravar culturas. Não tem pressa, pois seu objetivo é aprender com aquele novo ambiente, com as pessoas daquele local. E se der uma boa dor de barriga, ele aproveita para conhecer os chazinhos para aquele mal e fazer amigos.
Praia da Enseada – ago 2019 – por Miriam da Rocha

Portanto, o turista corre, o viajante anda; o turista engole, o viajante saboreia; o turista olha, o viajante observa; o turista fala, o viajante escuta.

Visitar espaços culturais (museus, galerias, centros culturais, pinacotecas), pode ir além de um passeio, quando unido à curiosidade do viajante. Ali acontecerá uma interação única entre você, viajante/visitante, e a própria arte! Ela se apresentará ao vivo e em cores na frente do seu nariz, como a pulga sugerida acima, porém algumas serão tão grandes que você precisará de calma para observar seus detalhes e paciência para ouvir suas respostas.

Pense, quando você visita alguém você dispende de tempo para estar inteiro naquele local com aquela pessoa. Portanto, é importante ter a mesma atitude ao visitar um espaço cultural, ir a um show de música, ir ao teatro, ler um livro. A atenção deve estar voltada para quem está sendo visitado!
Espaços culturais, especialmente os Museus, são um templo sagrado da história da humanidade. Pensamento avesso da maioria das pessoas que foram treinadas a ver o museu como uma espécie de depósito. Contudo, o diálogo que se tem com a história, nesses ambientes, é único! Mas para isso se tem que estar disposto a conversar, não necessariamente com pessoas, mas com a própria arte que ali se apresenta.

Costumo dizer para meus alunos que toda obra de arte é fofoqueira. Ela tem muito a dizer do seu tempo e do tempo atual. Mas você tem que estar disposto a manter esse diálogo. Lembre-se do que Confúcio (551-479 a.C) disse há mais de dois mil anos atrás, que uma imagem fala mais que mil palavras! Imagens são um sem fim de possibilidades. Elas trazem as referências de uma cultura próxima ou distante, de um tempo próximo ou distante, de uma sociedade próxima ou distante que, unidos a sua referência cultural, ao seu tempo e a sociedade na qual você está inserido, serão transformadas em conhecimento, em uma experiência única e individual.

Então, não tenha receio de ser ignorante naquele assunto. Ninguém sabe tudo, não somos computadores que armazenam dados, mas penso que somos seres que devem e precisam armazenar emoções. E a Arte é emoção, é conhecimento, é história, é ciência, é espiritualidade, é humana!

Logo, banalizar a arte é banalizar o ser humano.

Boas viagens!

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

VERITAS!

Verdade?


Artista: Sérgio Kisperger Canfield
Exposição: VERITAS!
Local: Instituto Internacional Juarez Machado
Cidade: Joinville



Sérgio Canfield traz de imediato, com o título de sua exposição, uma frase de Pablo Picasso
que procura explicar o que é Arte:

“A Arte não é a verdade. A Arte é uma mentira que nos ensina a compreender a verdade.”
O título da exposição: Veritas!, em latim, verdade...

A obra de Canfield apresenta na imagem uma mentira. Não existem pessoas assim! Contudo
nas expressões produzidas por ele com seus pinceis, tintas e colagens, está ali legitimamente a verdade.
Dispensando meu olhar a cada olhar composto (ou não) nas pinturas/colagens pude entrar na
dor/dúvida de cada personagem/paciente que ali se apresentava, incluindo o oculto Canfield.

Canfield, médico e cirurgião, profissão lhe confere um conhecimento anatômico instintivo. A
técnica artística vem da experiência clínica. Como médico precisa entender seu paciente e,
para entendê-los, busca seu olhar. Através do olhar penetra na alma e nas dores humanas do
outro. Como cirurgião necessita de precisão extraordinária, mão firme, olhos de águia,
atenção redobrada. Através do bisturi penetra no corpo e nas dores físicas do outro.
Com uma carga emocional que poucas outras profissões oferecem, Canfield emociona o
expectador atento com olhares intensos em figuras disformes. Olhos que espiam se há
empatia, não com o artista, não com a figura em si, mas com o humano despedaçado que ali
vive e jaz.

Sérgio mostra muitas e diversas verdades utilizando-se de figuras planas, em preto e branco
ou coloridas, grossos contornos até nenhum. Pranchetas e mais pranchetas com
personagens/pacientes que “falam” seu diagnóstico através da colagem de olhares penetrantes,
pequenas ou grandes bocas retas ou tortas. Lembram os “linguarudos” de Luiz Henrique
Schwanke que traziam outras verdades não menos intensas...

Verdades... Veritas!

Fotos montagem, não-objetos, vídeo arte arrepiantes, divertidos, reflexivos, instigantes. O que
fazer com tanta verdade exposta? Criar asas e voar para terras distantes, esconder-se em
máscaras/animais, fazer analogias e usar de metáforas para explicar a vida e suas... verdades?
Ficar de pernas para o ar feito um besouro sem sair do lugar e morrer inutilmente?
Quais são nossas verdades; que retrato nos representa; quantos remédios tomamos para curar
as dores do corpo causadas pelas dores da alma; quantos remédios ingerimos para curar as
dores da alma prejudicando o corpo; quantas pessoas passam por nós sem que penetremos
seus olhares.



Se o olhar é a janela da alma, Canfield quebrou os vidros, tirou as persianas e o descortinou.
Como disse Freud: “Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, se convence que os
mortais não podem ocultar nenhum segredo. Aquele que não fala com os lábios, fala com as
pontas dos dedos: nós nos traímos por todos os poros”.
Cada um pode conversar com a sua verdade. A verdade da dor, do abandono, da solidão, do
preconceito sofrido ou sentido, do descuido de si e do outro. A verdade do amor, da
compaixão, da empatia, da solidariedade, do cuidado consigo e com o outro.
Afinal, como falou Jung, “tudo depende de como vemos as coisas e não de como elas são”.
Na Arte Contemporânea, vida e obra se misturam. 


Visitação: 17 de agosto a 01 de novembro de 2019
Horário: 10h às 18h30 (terça a sábado) – 15h às 18h30 (domingos e feriados)



Por Miriam da Rocha

Depois de alguns meses sem nada postar, justifico minha ausência pois estava envolvida com minha primeira exposição. Tarefa nada fácil para ...