sexta-feira, 20 de setembro de 2019

VERITAS!

Verdade?


Artista: Sérgio Kisperger Canfield
Exposição: VERITAS!
Local: Instituto Internacional Juarez Machado
Cidade: Joinville



Sérgio Canfield traz de imediato, com o título de sua exposição, uma frase de Pablo Picasso
que procura explicar o que é Arte:

“A Arte não é a verdade. A Arte é uma mentira que nos ensina a compreender a verdade.”
O título da exposição: Veritas!, em latim, verdade...

A obra de Canfield apresenta na imagem uma mentira. Não existem pessoas assim! Contudo
nas expressões produzidas por ele com seus pinceis, tintas e colagens, está ali legitimamente a verdade.
Dispensando meu olhar a cada olhar composto (ou não) nas pinturas/colagens pude entrar na
dor/dúvida de cada personagem/paciente que ali se apresentava, incluindo o oculto Canfield.

Canfield, médico e cirurgião, profissão lhe confere um conhecimento anatômico instintivo. A
técnica artística vem da experiência clínica. Como médico precisa entender seu paciente e,
para entendê-los, busca seu olhar. Através do olhar penetra na alma e nas dores humanas do
outro. Como cirurgião necessita de precisão extraordinária, mão firme, olhos de águia,
atenção redobrada. Através do bisturi penetra no corpo e nas dores físicas do outro.
Com uma carga emocional que poucas outras profissões oferecem, Canfield emociona o
expectador atento com olhares intensos em figuras disformes. Olhos que espiam se há
empatia, não com o artista, não com a figura em si, mas com o humano despedaçado que ali
vive e jaz.

Sérgio mostra muitas e diversas verdades utilizando-se de figuras planas, em preto e branco
ou coloridas, grossos contornos até nenhum. Pranchetas e mais pranchetas com
personagens/pacientes que “falam” seu diagnóstico através da colagem de olhares penetrantes,
pequenas ou grandes bocas retas ou tortas. Lembram os “linguarudos” de Luiz Henrique
Schwanke que traziam outras verdades não menos intensas...

Verdades... Veritas!

Fotos montagem, não-objetos, vídeo arte arrepiantes, divertidos, reflexivos, instigantes. O que
fazer com tanta verdade exposta? Criar asas e voar para terras distantes, esconder-se em
máscaras/animais, fazer analogias e usar de metáforas para explicar a vida e suas... verdades?
Ficar de pernas para o ar feito um besouro sem sair do lugar e morrer inutilmente?
Quais são nossas verdades; que retrato nos representa; quantos remédios tomamos para curar
as dores do corpo causadas pelas dores da alma; quantos remédios ingerimos para curar as
dores da alma prejudicando o corpo; quantas pessoas passam por nós sem que penetremos
seus olhares.



Se o olhar é a janela da alma, Canfield quebrou os vidros, tirou as persianas e o descortinou.
Como disse Freud: “Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, se convence que os
mortais não podem ocultar nenhum segredo. Aquele que não fala com os lábios, fala com as
pontas dos dedos: nós nos traímos por todos os poros”.
Cada um pode conversar com a sua verdade. A verdade da dor, do abandono, da solidão, do
preconceito sofrido ou sentido, do descuido de si e do outro. A verdade do amor, da
compaixão, da empatia, da solidariedade, do cuidado consigo e com o outro.
Afinal, como falou Jung, “tudo depende de como vemos as coisas e não de como elas são”.
Na Arte Contemporânea, vida e obra se misturam. 


Visitação: 17 de agosto a 01 de novembro de 2019
Horário: 10h às 18h30 (terça a sábado) – 15h às 18h30 (domingos e feriados)



Por Miriam da Rocha

Opinião de Arte 




Como o nome do Blog coloca, aqui serão postadas por mim, opiniões sobre exposições,museus, galerias, eventos de arte. Falar sobre esses temas é um prazer e meu objetivo maior.
E por que não colocar como crítica? Porque esta palavra ficou marcada negativamente.
Quando se fala em crítica pensa-se em erros. Contudo quando se dá uma opinião soa mais leve, mais fácil de ser compreendido e aceito o que faltou, se é que faltou alguma coisa.
Opinião talvez seja menos doloroso e mais produtivo.
Portanto meus ensaios, comentários, opiniões girarão sobre o que o artista, o museu, a galeria, o evento pode trazer de reflexão individual e coletiva.
A experiência como professora de história da arte, curadora, escritora e arteterapeuta me impulsionaram a falar e escrever sobre esses temas.

Boa leitura!
Miriam da Rocha

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